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Mostrando postagens de outubro, 2012

Furto de flor

Furtei uma flor daquele jardim. O porteiro do edifício cochilava, e eu furtei a flor. Trouxe-a para casa e coloquei-a no copo com água. Logo senti que ela não estava feliz. O copo destina-se a beber, e flor não é para ser bebida. Passei-a para o vaso, e notei que ela me agradecia, revelando melhor sua delicada composição. Quantas novidades há numa flor, se a contemplarmos bem. Sendo autor do furto, eu assumira a obrigação de conservá-la. Renovei a água do vaso, mas a flor empalidecia. Temi por sua vida. Não adiantava restituí-la ao jardim, nem apelar para o médico de flores. Eu a furtara, eu a via morrer. Já murcha, e com a cor particular da morte, peguei-a docemente e fui depositá-la onde desabrochara. O porteiro estava atento e repreendeu-me: – Que ideia a sua, vir jogar lixo de sua casa neste jardim! Carlos Drummond de Andrade

Você é capaz de ir além de sua obrigação?

         Certa vez, um pescador, que também era pintor, foi contratado para pintar um barco. Ele amava pintar, e com tintas e pincéis cuidadosamente começou seu trabalho. O senhor pediu que seu barco fosse pintado de vermelho, pois esta era sua cor preferida, simplesmente por ser a cor do arrebol.    À medida que pintava, acabou percebendo que a tinta passava por uma fissura, passava por uma rachadura no casco da embarcação. Era preciso, pois, consertar aquele buraco e, consequentemente, dar prosseguimento ao seu digno afã. Concluído o conserto e a pintura, o dono do barco lhe pagou. O pescador agradeceu e com um sorriso no rosto, saiu em direção a sua casa.    Curiosamente, na manhã seguinte, os personagens deste episódio teriam uma lição que jamais esqueceriam.    O senhor que contratara os serviços do pintor, chegou inesperadamente até ele e lhe entregou um cheque de grande valor.    - Receba e...

A maior metáfora do mundo

Faz 100 anos que o “Titanic” foi ao fundo e o aniversário do naufrágio está tendo quase tanta cobertura quanto o próprio naufrágio. Há exposições sobre o navio e seu fim em várias cidades da Europa e discute-se outra vez desde as minúcias do desastre, como a desatenção do comando do navio aos vários alertas de icebergs na rota, até seu significado maior. Um jornal satírico americano fez uma edição inteira lembrando o acidente e seus intérpretes cuja manchete principal era “Maior metáfora do mundo bate em iceberg e afunda”. Que o trágico fim da maior coisa construída pelo homem até então era uma metáfora ninguém discutia. Mas qual, exatamente, a metáfora? O naufrágio do “Titanic” marcava o fim tardio do século 19 e sua confiança ilimitada no progresso tecnológico. Como um castigo a mais pela pretensão do século que findava, dali a dois anos toda a nova engenhosidade da era estaria engajada nas máquinas de morte da Grande Guerra e a tragédia precursora do “Titanic” simbolizaria um...

Você é insubstituível

Na sala de reunião de uma multinacional o diretor nervoso fala com sua equipe de gestores. Agita as mãos, mostra gráficos e, olhando nos olhos de cada um ameaça: “ninguém é insubstituível”. A frase parece ecoar nas paredes da sala de reunião em meio ao silêncio. Os gestores se entreolham, alguns abaixam a cabeça. Ninguém ousa falar nada. De repente um braço se levanta e o diretor se prepara para triturar o atrevido: - Alguma pergunta? - Tenho sim. E Beethoven? - Como? – o encara o gestor confuso. - O senhor disse que ninguém é insubstituível e quem substituiu Beethoven? Silêncio. Ouvi essa estória esses dias contada por um profissional que conheço e achei muito pertinente falar sobre isso. Afinal as empresas falam em descobrir talentos, reter talentos, mas, no fundo continuam achando que os profissionais são peças dentro da organização e que, quando sai um, é só encontrar outro para por no lugar. Quem substituiu Beethoven? Tom Jobim? Ayrton Senna? Ghandi? Frank S...

O lobo

Uma noite, um velho índio falou ao seu neto sobre o combate que acontece dentro das pessoas. Ele disse: – Há uma batalha entre dois lobos que vivem dentro de todos nós. Um é Mau – É a raiva, inveja, ciúme, tristeza, desgosto, cobiça, arrogância, pena de si mesmo, culpa, ressentimento, inferioridade, orgulho falso, superioridade e ego. O outro é Bom – É alegria, fraternidade, paz, esperança, serenidade, humildade, bondade, benevolência, empatia, generosidade, verdade, compaixão e fé. O neto pensou nessa luta e perguntou ao avô: – Qual lobo vence? O velho índio respondeu:   – Aquele que você alimenta!