O poeta faz agricultura às avessas: numa única semente planta a terra inteira. Com lâmina de enxada a palavra fere o tempo: decepa o cordão umbilical do que pode ser um chão nascente. No final da lavoura o poeta não tem conta para fechar: ele só possui o que não se pode colher. Afinal, não era a palavra que lhe faltava. Era a vida que ele, nele, desconhecia. Mia Couto