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Mostrando postagens de janeiro, 2014

O apanhador de desperdícios

Uso a palavra para compor meus silêncios. Não gosto das palavras fatigadas de informar. Dou mais respeito às que vivem de barriga no chão tipo água pedra sapo. Entendo bem o sotaque das águas Dou respeito às coisas desimportantes e aos seres desimportantes. Prezo insetos mais que aviões. Prezo a velocidade das tartarugas mais que a dos mísseis. Tenho em mim um atraso de nascença. Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos. Tenho abundância de ser feliz por isso. Meu quintal é maior do que o mundo. Sou um apanhador de desperdícios: Amo os restos como as boas moscas. Queria que a minha voz tivesse um formato de canto. Porque eu não sou da informática: eu sou da invencionática. Só uso a palavra para compor meus silêncios. Manoel de Barros

As dificuldades da vida

Um homem trabalhava de sol a sol, plantando batatas. Em dado momento, cansado, limpou o suor com a manga da camisa e reclamou: - Que vida dura essa! Batalhando aqui o dia todo, faça chuva ou faça sol, plantando batatas para ganhar uma miséria. Nisso, viu um ônibus e comentou com seus botões: - Vida boa é a de motorista de ônibus, trabalha sentado, à sombra, viajando! Ness e exato instante, o motorista do ônibus pensou, tristemente:   - Vida dura essa minha... Anos e anos viajando, sem parada, suportando a chatice dos passageiros e o perigo das estradas! Olhou para o alto, viu um avião e ponderou: - Vida boa é como a do piloto desse avião; voando lá no silêncio das alturas, conhecendo o mundo inteiro. Exatamente nessa hora, o piloto do avião, em sua cabina, pensava: - Não aguento mais esta vida! Voando sempre de um lado para outro, em meio a esta parafernália de instrumentos, estressado, sujeito a horários, sem tempo para descansar com a família. Dirigiu o olhar par...