Lá, num
fundo de gaveta, dois lápis estavam juntos.
Um era
novo, bonito, com ponta muito bem feita. Mas o outro – coitadinho! – era triste
de se ver. Sua ponta era rombuda, dele só restava um toco, de tanto ser
apontado.
O
grandão, novinho em folha, olhou para a triste figura do companheiro e chamou:
– Ô,
baixinho! Você, aí embaixo! Está me ouvindo?
– Não
precisa gritar – respondeu o toco de lápis. – Eu não sou surdo!
– Não é
surdo? Ah, ah, ah! Pensei que alguém já tivesse até cortado as suas orelhas, de
tanto apontar sua cabeça!
O
toquinho de lápis suspirou:
– É
mesmo... Até já perdi a conta de quantas vezes eu tive de enfrentar o
apontador...
O lápis
novo continuou com a gozação:
– Como
você está feio e acabado! Deve estar morrendo de inveja de ficar ao meu lado.
Veja como eu sou lindo, novinho em folha!
– Estou
vendo, estou vendo... Mas, me diga uma coisa: Você sabe o que é uma poesia?
–
Poesia? Que negócio é esse?
– Sabe o
que é uma carta de amor?
– Amor?
Carta? Você ficou louco, toquinho de lápis?
– Fiquei
tudo! Louco, alegre, triste, apaixonado! Velho e gasto também. Se assim fiquei,
foi porque muito vivi. Fiquei tudo aquilo que aprendi de tanto escrever durante
toda a vida. Romance, conto, poesia, narrativa, descrição, composição, teatro,
crônica, aventura, tudo! Ah, valeu a pena ter vivido tanto, ter escrito tanta
coisa, mesmo tendo de acabar assim, apenas um toco de lápis. E você, lápis
novinho em folha: o que é que você aprendeu?
O
grandão, que era um lindo lápis preto, ficou vermelho de vergonha...
Pedro Bandeira
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