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Avatar

Não peço permissão para entrar, pois já tenho a chave deste universo:
Uma chave enferrujada,
Uma chave entortada.
E quando este poema me põe face a face com o meu eu lírico,
Crio mundos e os destruo.

Eu sou o avatar que vive no verso.

A palavra me deseja e me chama para que eu a use e a torne viva.

Queres ser imortal?
Escreve um poema.
Queres a poesia?
Desperta teu avatar.

A jornada se desenha hostil e beligerante.
E o que eu escolho?
A caixa de Pandora,
O cavalo de Troia,
A pedra de Sísifo,
As asas de Ícaro,
A sabedoria dos erros,
O amor ao inútil.
A alquimia do inescapável,
Fugir da morte por um poema.

Sabes um dos grandes problemas da humanidade?
Ela ama a violência contra o mistério, mas não admite.
A poesia vomita o sol,
Mas é a solidão que engole a humanidade e derrete a égide frágil dos filhos do delírio.
Todos nos alimentamos diariamente de paradoxos
E o destino escolhido está grafado no brasão vil e radiante da busca humana:
“Vaidade, vaidade, vaidade”.


Grita de raiva para que o mundo saiba que o tempo é um palhaço homicida.
Não percas a oportunidade esfregar na cara da morte um poema.
Um poema risada, um poema grito, uma poema fuga.
Pois, definitivamente, um poema é uma vingança.

É deveras magnífico todo um universo caber num único verso
Tanto quanto resgatar não a verdade, mas o inefável que está preso num labirinto impossível...

Todo homem deveria criar um poema
Para ser imortal.
Por isso, desperta teu avatar.
Cria um poema.
Escreve, recita, gesticula, escuta, vê, toca, sente o cheiro do poema, o sabor...
Dá vida ao poema.

Mas não é fácil.
Seria um desvario admiti-lo.
O cálamo pesa mais do que pode suportar um titã onipotente
E tudo isso porque esta epopeia patética
Tem como preço uma chave enferrujada.
Uma chave entortada pela vaidade.

Celebramos a vaidade para que a palavra brilhe e o eco da beleza faça sangrar o infinito,
Que pulsa
Que grita
E que queima o colosso do absoluto e o converte em cinzas
Porque a leitura do extraordinário nada mais é do que a dança do fogo-fátuo.

Mas o que importa?!
Não peças permissão para entrar.
Não peças permissão para dançar.
Toma a chave.
Dança no verso.
Sê poeta.


Anakin Ribeiro

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