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Pandemia


No ano de 2222 um vírus matou 2 bilhões de pessoas no mundo. A pandemia obrigou as pessoas a ficarem dentro de suas casas. Enclausurados, amedrontados e impotentes, os homens evitavam a todo custo ser contaminados pelo vírus. Lojas, escolas, praças, parques, praias ficaram vazias. A economia foi arrasada, enquanto o manto tétrico da morte levava sua sombra à cidadela da civilização. O flagelo da doença era impiedoso. As ruas ficaram desertas, exceto por moradores de ruas, porque a pobreza nunca acabara. Ninguém nunca ligou para isso. E muitos deles, expostos ao vírus, pereceram nas ruas. Os sobreviventes não abandonaram a esperança, embora temessem a fúria implacável da pandemia. Os dias e as noites eram as testemunhas das lágrimas e dos lamentos dos homens. A ciência e a medicina não conseguiam decifrar o enigma do adversário. E os governos não tinham vacina nem cura para esse mal e só eram eficazes em enterrar os mortos.
Um fato curioso é que a arte não existia em 2222. Governos do passado indubitavelmente baniram a arte. Julgaram-na subversiva, deletéria e aviltante. Museus, teatros e cinemas não existiam. Não havia pintura nem escultura nem literatura. Música e dança foram apagadas dos registros históricos. Ninguém em 2222 sabia pintar. Ninguém desconfiava o que fazia um artista.
De repente, sem nenhuma explicação, uma criança começou a cantar para um girassol, e uma borboleta azul dançou diante do olhar de outra criança, e aquele brilho fascinante dos seus olhos atraiu um rouxinol que bateu suas asas e produziu o vento que carregou para todos os povos as sementes frutíferas da beleza, e a poesia ressuscitou naquele momento. O horizonte magistralmente pintou um caleidoscópio infinito para o mundo admirar. Então, os homens redescobriram a arte. No 302º dia daquele ano, a cura foi descoberta.  A cura para erradicar o vírus era a arte.  O vírus morria em contato com todo aquele que produzisse arte ou amasse a arte. Por alguma razão científica ou mística, a arte ressurgiu e eliminou o vírus. O mundo finalmente triunfou. E a humanidade foi salva.

Anakin Ribeiro

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