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Mostrando postagens de maio, 2013

As máscaras

Cada ano põe no teu rosto uma nova máscara. Este alegre, aquele indiferente, o outro triste, o que há de vir, porventura gesticulante e ridícula. Cada ano põe no teu rosto uma nova máscara, e segue caminho... Mas o teu eu impassível, cuja fisionomia apenas os deuses conhecem, sabe que ele nem sorri, nem chora, nem gestícula. O teu eu ao ver-se ao espelho através das janelas cada vez menos luminosas dos teus olhos, diz para si mesmo: “Eis aqui a máscara nova que a vida me pôs na cara.” ... E pensa noutra coisa. Muitas das tuas máscaras ficaram durante muito tempo nas fotografias. Durarão mais do que merecem. Mas nenhuma foi em nenhum momento a expressão exata do teu eu. Isto te leve a procurar nos homens a fisionomia interior, a fisionomia escondida. E poderás dizer um dia: “esteve aqui um anjo e eu não sabia”. Amado Nervo

Sonho impossível

Sonhar Mais um sonho impossível Lutar Quando é fácil ceder Vencer O inimigo invencível Negar Quando a regra É vender Sofrer A tortura implacável Romper A incabível prisão Voar Num limite improvável Tocar O inacessível chão É minha lei, é minha questão Virar esse mundo Cravar esse chão Não me importa saber Se é terrível demais Quantas guerras terei que vencer Por um pouco de paz E amanhã se esse chão que eu beijei For meu leito e perdão Vou saber que valeu delirar E morrer de paixão E assim, seja lá como for Vai ter fim a infinita aflição E o mundo vai ver uma flor Brotar do impossível chão. Chico Buarque de Holanda