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Mostrando postagens de 2020

uma mulher sob influência

  queria escrever um poema sensorial, um sobrevoo rasante, ébrio, erótico, com palavras que pudessem salvar algo disto aqui, mas o poema ele fracassa. o poema fracassa justo onde eu preciso ser salva, justo onde eu, como gena, mabel, como outras, como todas as mulheres que levantam os braços e rodopiam com ou sem roupa, pelas ruas ou entre paredes, em silêncio ou aos berros,            justo onde enlouqueço numa sazonalidade que não omito                                                                                  ...

Tatuagens secretas

Já vai longe o período contestador em que a rebeldia se manifestava através de tatuagens. Numa era em que alargadores de orelha, próteses e implantes subcutâneos disputam atenção, a pintura corporal dificilmente assombra. Penso, por exemplo, no caso de um artista que se cobriu com desenhos de serpente, caveiras, dragões e outros símbolos de violência – apenas para perceber que continuava tão inexpressivo quanto na época em que era um adolescente pesando 58 quilos. Desesperado, ele fez mais um esforço para se sobressair: deu um tiro no próprio pé, raspou a cabeça e tentou o suicídio com anabolizantes. A performance lhe rendeu uma citação na CACA – Coletânea de Arte Contemporânea Ativa – mas não foi além disso. Entretanto, se nos tempos atuais a tatuagem perdeu em gesto político e pasmo estético, ao menos continua válida aos que querem marcas definitivas de suas paixões. Dentro dessa linha, estão na moda as inscrições reclusas, que ficam sob a roupa, debaixo dos cabelos ou em algum l...

A sexta pessoa

Um empresário bem sucedido chama um estagiário para uma conversa breve. Ele aponta para diferentes grupos de pessoas que trabalham na sua empresa. E diz: “Se você anda com cinco pessoas dedicadas, você se torna a sexta. Se você anda com cinco pessoas estudiosas, você se torna a sexta. Se você anda com cinco pessoas milionárias, você se torna a sexta. Se você anda com cinco pessoas medíocres, você se torna a sexta. E por fim, se você anda com cinco pessoas más, você se torna a sexta.”  

Nascimento do olhar

    O pôr do sol avermelha o horizonte. O sol se põe no vermelho do horizonte. O vermelho se horizontaliza no sol. O pôr do sol orienta o vermelho. O horizonte deposita vermelhos no sol. Um sol se põe na vermelhitude ortogonal do horizonte. Um horizonte avermelha ao sol. Em decúbito dorsal o sol do sol avermelha. Horizontalizam vermelhos de sol. Solarizam rubros horizontes vergéis. Vertem vermelhos espelhos de sol. Horrorizontes vesgos vergam-se ao sol. Horrorizontes velhos vertem vespas de sol. Horrorizontes vermelhizam sendas de sol. Vertem rubros vergéis em horizontes de fel ao sol. Um pôr de sol depõe contra o horizonte. Vermelhorror: o sol se consome.   Susanna Busato    

Ser

Estranho O ser Que me estranha As entranhas O querer ser amado Enlaçado Envolto abraço Assanha Aranha carne, pele Seus lábios A manjedoura Que me espera Expele O gérmen do amor Que te guardo Intocado Nesse tempo etéreo Lou Albergaria

O que faz sentido

  Reformulamos o amor porém se fórmula não existia como repeti-la? É preciso criar um eco ambíguo que deixe de ser eco e tome a forma do que viver possa ter sido: encontraremos restos do sentido que num instante incerto alguma coisa fez e nunca poderá ser repetido Gastão Cruz