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Mostrando postagens de setembro, 2012

Bandido

                                           Meu tio tinha cara de bandido e era graças a isso que ganhava a vida. Trabalhava para um clube de Brasília que se gabava de fornecer aos sócios diversões inusitadas. Tais como os assaltos simulados, a cargo do meu tio.      A coisa funcionava da seguinte maneira. Ao cair da noite ele se dirigia para o estacionamento do clube e ali ficava, meio oculto entre as árvores. Quando um sócio aparecia, meu tio saía de seu esconderijo e, revólver de plástico na mão, gritava: quieto, isto é um assalto. O sócio – tudo previamente combinado – levantaria os braços, mas, meu tio se aproximando, ele lhe daria um golpe no pulso, fazendo o revólver voar; e aí daria um soco na barriga de meu tio, que se curvava gemendo – apenas para...

A incapacidade de ser verdadeiro

Paulo tinha fama de mentiroso. Um dia chegou em casa dizendo que vira no campo dois dragões-da-independência cuspindo fogo e lendo fotonovelas. A mãe botou-o de castigo, mas na semana seguinte ele veio contando que caíra no pátio da escola um pedaço de lua, todo cheio de buraquinhos, feito queijo, e ele provou e tinha gosto de queijo. Desta vez Paulo não só ficou sem sobremesa como foi proibido de jogar futebol durante quinze dias. Quando o menino voltou falando que todas as borboletas da Terra passaram pela chácara de Siá Elpídia e queriam formar um tapete voador para transportá-lo ao sétimo céu, a mãe decidiu levá-lo ao médico. Após o exame, o Dr. Epaminondas abanou a cabeça: - Não há nada a fazer, Dona Coló. Este menino é mesmo um caso de poesia.              Carlos Drummond de Andrade

Se tivéssemos andado mais depressa

Havia um rapaz que cuidava, com o pai, de um pequeno pedaço de terra. Várias vezes por ano, eles lotavam o velho carro de boi com legumes e dirigiam-se até a cidade mais próxima para vender sua produção. Com exceção do nome e dos cuidados dedicados ao pedaço de terra, pai e filho tinham poucas coisas em comum. O homem mais velho levava a vida de maneira pacata. O mais novo estava sempre com pressa… era “dinâmico”. Certa manhã ensolarada, eles se levantaram bem cedo, atrelaram o boi ao carro e iniciaram a longa viagem. O filho imaginou que, se eles andassem mais depressa, rodando o dia inteiro e a noite inteira, conseguiriam vender a mercadoria no início da manhã seguinte. Com essa idéia em mente, ele cutucava o boi com uma varinha, insistindo para que o animal andasse mais rápido. - Vá com calma, filho – disse o pai -, para você ter vida mais longa. - Se chegarmos ao mercado antes dos outros, vamos ter mais chances de conseguir preços melhores – argumentou o filho. O pai n...

Salvo pela gentileza

Conta-se uma história de um empregado em um frigorífico da Noruega. Certo dia ao término do trabalho, foi inspecionar a câmara frigorífica. Inexplicavelmente, a porta se fechou e ele ficou preso dentro da câmara. Bateu na porta com força, gritou por socorro, mas ninguém o ouviu. Todos já haviam saido para suas casas e era impossível que alguém pudesse escutá-lo. Já estava quase cinco horas preso, debilitado com a temperatura insuportável. De repente a porta se abriu e o vigia entrou na câmara e o resgatou com vida. Depois de salvar a vida do homem, perguntaram ao vigia: Porque foi abrir a porta da câmara se isto não fazia parte da sua rotina de trabalho? Ele explicou: Trabalho nesta empresa há 35 anos. Centenas de empregados entram e saem aqui todos os dias e ele é o único que me cumprimenta ao chegar pela manhã e se despede de mim ao sair. Hoje pela manhã ele disse “Bom dia” quando chegou. Entretanto não se despediu de mim na hora da saída. Imaginei que poderia ter-...