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Mostrando postagens de agosto, 2013

Os filhos do lixo

Há quem diga que dou esperança; há quem proteste que sou pessimista. Eu digo que os maiores otimistas são aqueles que, apesar do que vivem ou observam, continuam apostando na vida, trabalhando, cultivando afetos e tendo projetos. Às vezes, porém, escrevo com dor. Como hoje. Acabo de assistir a uma reportagem sobre crianças do Brasil que vivem do lixo. Digamos que são o lixo deste país, e nós permitimos ou criamos isso. Eu mesma já vi com estes olhos gente morando junto de lixões, e crianças disputando com urubus pedaços de comida estragada para matar a fome. A reportagem era uma história de terror – mas verdadeira, nossa, deste país. Uma jovem de menos de 20 anos trazia numa carretinha feita de madeiras velhas seus três filhos, de 4, 2 e 1 ano. Chegavam ao lixão, e a maiorzinha, já treinada, saía a catar coisas úteis, sobretudo comida. Logo estavam os três comendo, e a mãe, indagada, explicou com simplicidade: "A gente tem de sobreviver, né?". O relato dessa qu...

Vestibular

O Brasil jovem está “curtindo” o vestibular. Páginas inteiras dos jornais acompanham a operação nacional. Onde houver um garotão ou um “brotinho” debruçado sobre a folha de papel, aí estará o fotógrafo para registrar a cena. E a cena é esta: o garotão tirou os sapatos para descontrair-se até o dedão, e está mais deitado do que sentado; assim as ideias lhe chegam melhor. O “brotinho” se enroscou todo, no auge da concentração, e emerge do microinvólucro estampado, como um antúrio pensante. Quem se lembraria de fotografar esses dois no ato de fazer prova, se estivéssemos no Brasil de 1940 ? Hoje, vestibular é notícia, e a imagem dos jovens tem uma importância jornalística antes concedida a imperadores em tempo de guerra. O particular tornou-se geral. Conseguir vaga em escola de nível superior ficou sendo briga de foice, acompanhada, golpe a golpe, pela multidão de pais. E pelos diretores de cursinhos, aliás cursões a julgar pelo espaço com que se promovem nos jornais. Todo mundo ...