Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de 2015

Alice

Nosso filho Gabriel, de catorze anos, era gago. Eu e minha mulher Celina já o havíamos levado a vários especialistas, mas a gagueira dele continuava. Gabriel era estudioso e passava de ano em todas as matérias, menos em português, em que sempre ficava de recuperação. Conseguíamos um professor para lhe dar aulas particulares e assim mesmo ele passava com dificuldade. Nas ocasiões em que o professor mudava, o que podia ocorrer quando Gabriel passava de ano, eu e Celina procurávamos o novo professor para falar das dificuldades do nosso filho. Nesse ano, quando marcamos a entrevista, verificamos que quem ia ensinar português ao Gabriel era uma professora, de nome Alice, que fora transferida de outra escola, uma mulher de aproximadamente quarenta anos, separada do marido, sem filhos. A professora perguntou se Gabriel gostava de ler e minha mulher respondeu que ele detestava e se irritava quando o professor mandava ler um livro da bibliografia. A professora Alice disse que iss...

Ética e vergonha na cara

 Em uma corrida de Cross-country, o queniano Abel Muttai estava a poucos metros da linha de  chegada, quando se confundiu com a sinalização, pensando que já havia completado a prova. Logo  atrás, vinha o espanhol Iván Anaya que, vendo a situação, começou a gritar para que o queniano  ficasse atento, mas Muttai não entendia o que o colega dizia. O espanhol, então, o empurrou em  direção à vitória.  Um jornalista perguntou a Iván:   - Por que o senhor fez isso?" Iván respondeu com outra pergunta:   - Isso o quê? Ele não havia entendido a pergunta…   O meu sonho é que um dia possamos ter um tipo de vida comunitária, em que a pergunta feita pelo  jornalista não seja mesmo entendida, pois não pensou que houvesse outra coisa a ser feita do que  aquilo feito por ele.  Veja o restante da entrevista:   - Por que o senhor deixou o queniano ganhar?   - Eu não o deixei ganhar, ele ia ganhar.   - Mas o s...

A palavra mágica

Ser felizes é o que todos nós queremos. Doam quanto doerem os passos que damos, e ainda que pareça interminável o caminho, aceitamos tudo se tivermos a convicção, ou pelo menos a esperança, de que um dia – um belo dia, como se diz nos contos de fadas – se abrirá diante de nossos olhos, esplêndida, a felicidade. A felicidade tem mil e um jeitos de ser. Há para cada um de nós uma felicidade. Para os pessimistas e os exigentes, a felicidade é uma coisa tão grandiosa e maravilhosa que nunca está ao nosso alcance, ou só se atingirá com muita dor e muito sacrifício. Para outros, a felicidade é um acontecimento diário, e existem dias especialmente venturosos, em que pode haver até mais de uma. Altair é dos que acham que a felicidade é um bem tão valioso e importante que não pode jamais ser simples. Felicidades corriqueiras, para ele, são teoricamente impossíveis. O nome exato delas seria alegrias – um dos mais baixos estágios da felicidade. Sua namorada, Debrinha, já é do tipo qu...

Violência

A maldade massacra a paz. O ciúme agride o amor. O egoísmo enforca a bondade. A indiferença assassina a paixão. A mentira estupra a verdade. O preconceito mata o conhecimento. A vingança namora a maldade. A tristeza humilha a alegria. A dor estrangula o prazer. A morte inveja a vida. Anakin Ribeiro

Bruxas não existem

Quando eu era garoto, acreditava em bruxas, mulheres malvadas que passavam o tempo todo maquinando coisas perversas. Os meus amigos também acreditavam nisso. A prova para nós era uma mulher muito velha, uma solteirona que morava numa casinha caindo aos pedaços no fim de nossa rua. Seu nome era Ana Custódio, mas nós só a chamávamos de “bruxa”.   Era muito feia, ela; gorda, enorme, os cabelos pareciam palha, o nariz era comprido, ela tinha uma enorme verruga no queixo. E estava sempre falando sozinha. Nunca tínhamos entrado na casa, mas tínhamos a certeza de que, se fizéssemos isso, nós a encontraríamos preparando venenos num grande caldeirão.   Nossa diversão predileta era incomodá-la. Volta e meia invadíamos o pequeno pátio para dali roubar frutas e quando, por acaso, a velha saía à rua para fazer compras no pequeno armazém ali perto, corríamos atrás dela gritando “bruxa, bruxa!”.   Um dia encontramos, no meio da rua, um bode morto. A quem pertencera esse anima...

Desejos

Desejo a vocês... Fruto do mato Cheiro de jardim Namoro no portão Domingo sem chuva Segunda sem   mau humor Sábado com seu amor Filme do Carlitos Chope   com amigos Crônica de Rubem Braga Viver sem inimigos Filme antigo na TV Ter uma pessoa especial E que ela goste de você Música de Tom   com letra de Chico Frango caipira em pensão do interior Ouvir uma palavra amável Ter uma   surpresa agradável Ver a Banda passar Noite de lua cheia Rever uma velha amizade Ter fé em Deus Não ter que ouvir a palavra não Nem nunca, nem jamais e adeus. Rir como criança Ouvir canto de passarinho. Sarar de resfriado Escrever um   poema de Amor Que nunca será rasgado Formar um par ideal Tomar banho de cachoeira Pegar um   bronzeado legal Aprender um nova canção Esperar alguém na estação Queijo com   goiabada Pôr-do-Sol na roça Uma festa Um violão Uma seresta Recordar um amor antigo Ter um ombro sempre amigo Bater palmas de alegr...

Passional

Bruno procurava todas as noites tê-la, envolvê-la, fazer com que fosse sua, como outrora. Mas Alice sempre o evitava na cama, sempre dava desculpas, sempre o desprezava. Ele não se conformava. Sofria. E bebia. Bebia muito. E sofria mais. O desprezo e a desconfiança geravam o desespero. O jovem professor de matemática, Bruno, amava demais sua mulher, embora não fosse mais correspondido, e se refugiava na bebida e na melancolia. Nina, bela fotógrafa, conheceu Alice, e com ela fazia muitas fotos. O trabalho de Nina aproximou-as. Uma seria confidente da outra. Seriam amigas. Muito amigas. Bruno começava a desconfiar de Alice. Ela certamente guardava um segredo. Será que tinha um amante? Só podia ser isso! Não havia outa explicação. Alice o desprezava porque devia ter outro homem, pensava Bruno. Ele foi ao aeroporto. Pegaria um avião. Sempre viajou a trabalho, e Alice teria todo o dia livre da presença dele para fazer o que quisesse.  Mas o professor neste dia perdeu seu voo e ...

Culinária nordestina

Um jornalista disse na televisão Que a gente no Nordeste come rato no sertão Não é isso, não Não é isso, não É um preá bem torradinho Disso aí não abro mão Não é isso, não Não é isso, não É um preá bem torradinho Disso aí não abro mão A culinária do Nordeste a gente gosta É comida que faz posta Da sustança, satisfaz Tem um pirão de farinha de mandioca Tem cuscuz Tem tapioca E o beiju que é bom demais Tem rapadura Tem cachaça de primeira Galinha de capoeira Carne de sol e buchada Veja a moçada comendo sem cerimônia Quando chega no São João É canjica com pamonha E haja forró Muita animação É nego de bucho inchado E a catinga no salão E haja forró Muita animação Veja até as menininhas Solta traque no salão. Pinto do Acordeon

Sempre vale a pena pagar para ver

A leitora Soraia envia a seguinte história, que pensa ter sido publicada no New York Times. Eu tenho minhas dúvidas, mas como sempre achei que vale a pena pagar para ver, resolvi transcrevê-la aqui. “Uma pessoa fez o seguinte anúncio no jornal The New York Times: Vendo Mercedes Benz, pouquíssimo uso, preto, turbo. Preço US$ 85,00; Tratar com Carolinne, Tel: xxxxxxxxx. Os que leram o anúncio pensaram que, por um erro gráfico, ao invés de US$ 85.000,00 imprimiram apenas US$ 85,00. Outros acharam que era uma espécie de trote, e acabaram não telefonando. Até que Joseph Smith, em sua ingenuidade, resolveu ligar para Carolinne e esta lhe confirmou o preço. Quis saber se era algum acessório, ou uma miniatura – e a mulher lhe informou que não, tratava-se do próprio automóvel. Mais do que depressa Joseph correu para a casa de Carolinne com os US$ 85,00 e – para seu espanto – lá estava Mercedes, lindo e reluzente na garagem. Depois de ter pago, e já com o recibo nas mãos, perguntou: ...

Além dos próprios limites

Um arqueiro seguia próximo a um mosteiro hindu, conhecido por sua rigidez, quando viu os monges no jardim, bebendo e se divertindo. “Como são cínicos aqueles que buscam o caminho de Deus”, disse em voz alta. “ Dizem que a disciplina é importante, e se embriagam às escondidas!” “Se você disparar 100 flechas seguidas, o que acontecerá com o seu arco?”, perguntou o mais velho dos monges. “Meu arco se quebrará”, respondeu o arqueiro. “Se alguém se esforça além dos próprios limites, também quebra sua vontade”, disse o monge. “Quem não equilibra trabalho com descanso, perde o entusiasmo, esgota sua energia e não chega muito longe”. Paulo Coelho

Desabafo sobre o amor

O amor é aquele carinha da sua escola, da primeira série, que te xingava de um milhão de palavrões infantis só porque você tinha os dentes da frente abertos. O amor é aquela caixa de morangos que parecem estar maravilhosos e, quando você abre, descobre que todos os que estavam no fundo estão podres. O amor é aquela seção de calças de cintura alta perfeitas, tamanho 32, que não cabem nem mesmo em modelos. O amor não é justo. E, talvez, o problema resida não no sentimento em si, e sim no timing. Duas pessoas, quando se encontram, têm a possibilidade mínima de se encontrarem no mesmo estágio de vida. Não importa se você é magra, loira e tem os olhos azuis, se o cara não tá a fim de namorar agora. Não importa quantos gominhos você tenha na sua barriga malhadíssima, se o outro te acha um saco. Conheci muita gente e me apaixonei por cada uma delas - paixão é sim, uma forma mínima de amar, por menor que seja. Conheci gente demais em tempos errados demais. Hoje, perce...

O que é viver

Um jovem advogado foi indicado para inventariar os pertences de um senhor recém falecido. Segundo o relatório do seguro social, o idoso não tinha herdeiros ou parentes vivos. Suas posses eram muito simples. O apartamento alugado, um carro velho, móveis baratos e roupas puídas. “Como alguém passa toda a vida e termina só com isso?”, pensou o advogado. Anotou todos os dados e ia deixando a residência quando notou um porta-retratos sobre um criado mudo. Na foto estava o velho morto. Ainda era jovem, sorridente, ao fundo um mar muito verde e uma praia repleta de coqueiros. À caneta escrito bem de leve no canto superior da imagem lia-se “sul da Tailândia”. Surpreso, o advogado abriu a gaveta do criado e encontrou um álbum repleto de fotografias. Lá estava o senhor, em diversos momentos da vida, em fotos em todo canto do mundo. Em um tango na Argentina, na frente do Muro de Berlim, em um tuk tuk no Vietnã, sobre um camelo com as pirâmides ao fundo, tomando vinho em frente ao Col...