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Mostrando postagens de 2019

Volta ao lar de maneira inesquecível

Ficar sem companhia quando se chega à velhice é lamentavelmente mais comum do que se pode imaginar. A sensação de abandono é a mais corriqueira consequência da falta de empatia familiar. Alguns dias antes do Natal, um senhor alemão de cabelos brancos recebeu a seguinte mensagem deixada na secretária eletrônica: “Oi, papai. Preciso te dizer que não iremos a sua casa no  Natal  esse ano. Tentaremos no próximo, prometo. Feliz Natal, papai”. Do outro lado do telefone, este senhor idoso escutou decepcionado as mesmas desculpas de todos os anos. Cansado de ficar sempre sozinho durante as festividades do final do ano, ele toma uma decisão radical: sua morte vai conseguir reunir toda a sua família no Natal este ano. Logo, a família é informada do falecimento do senhor. Surpreendidos por uma notícia tão triste, todos os parentes não quiseram acreditar nessa tragédia familiar. Prontamente, todos se prepararam e foram àquele importante lar para se despedir do estimado senhor...

Dez exemplares e uma escolha

Em 2014, o dono de uma importante editora nos Estados Unidos, Thomas Ferguson, visitou o Brasil à procura de uma pessoa que pudesse ocupar um cargo de prestígio na sua empresa. Um das primeiras coisas que fez ao pisar em solo brasileiro foi a visita a uma livraria. Lá ele comprou dez exemplares da obra O chamado da floresta , de Jack London. Depois, dentro de cada exemplar, colocou uma nota de cem reais e um post it, contendo um número de telefone e o sobrenome “Ferguson”. Deixou um exemplar em cada banco de dez praças diferentes. E aguardou. No dia seguinte, das dez pessoas que encontraram os exemplares, apenas duas ligaram para o número a fim de devolver o livro. Conforme dialogaram, um se encontraria com o senhor Ferguson pela amanhã e o outro à tarde, num shopping. O primeiro a devolver foi um homem de trinta anos, que disse: - Vi o livro deixado num banco da praça, peguei-o e, ao abri-lo, percebi que havia dinheiro dentro dele. Pensei: se tem dinheiro, alguém o per...

Avatar

Não peço permissão para entrar, pois já tenho a chave deste universo: Uma chave enferrujada, Uma chave entortada. E quando este poema me põe face a face com o meu eu lírico, Crio mundos e os destruo. Eu sou o avatar que vive no verso. A palavra me deseja e me chama para que eu a use e a torne viva. Queres ser imortal? Escreve um poema. Queres a poesia? Desperta teu avatar. A jornada se desenha hostil e beligerante. E o que eu escolho? A caixa de Pandora, O cavalo de Troia, A pedra de Sísifo, As asas de Ícaro, A sabedoria dos erros, O amor ao inútil. A alquimia do inescapável, Fugir da morte por um poema. Sabes um dos grandes problemas da humanidade? Ela ama a violência contra o mistério, mas não admite. A poesia vomita o sol, Mas é a solidão que engole a humanidade e derrete a égide frágil dos filhos do delírio. Todos nos alimentamos diariamente de paradoxos E o destino escolhido está grafado no brasão vil e radiante d...

O poder da literatura

 Em um século dominado pelo virtual e pelo instantâneo, que poder resta à literatura? Ao contrário das imagens, que nos jogam para a fora e para as superfícies, a literatura nos joga para dentro. Ao contrário da realidade virtual, que é compartilhada e se baseia na interação, a literatura é um ato solitário, nos aprisiona na introspecção. Ao contrário do mundo instantâneo em que vivemos, dominado pelo “tempo real” e pela rapidez, a literatura é lenta, é indiferente às pressões do tempo, ignora o imediato e as circunstâncias. Vivemos em um mundo dominado pelas respostas enfáticas e poderosas, enquanto a literatura se limite a gaguejar perguntas frágeis e vagas. A literatura, portanto, parece caminhar na contramão do contemporâneo. Enquanto o mundo se expande, se reproduz e acelera, a literatura se contrai, pedindo que paremos para um mergulho “sem resultados” em nosso próprio interior. Sim: a literatura - no sentido prático - é inútil. Mas ela apenas parece inútil. A litera...

A pesquisa

Um grupo de sociólogos realizou uma pesquisa em uma favela, procurando estabelecer dados estatísticos sobre a probabilidade das crianças moradoras daquela comunidade se tornarem, após vinte anos, marginais devido à realidade cultural e social dos habitantes daquele lugar. A perspectiva era que parte daquelas crianças nem estivesse vivas e que pelo menos 85% fossem traficantes. Após vinte anos, os sociólogos retornaram àquela mesma favela e tiveram uma grande surpresa: nenhuma daquelas crianças morreu ou se tornou  traficante. Eles não compreenderam o fato e resolveram realizar uma nova pesquisa através de entrevistas para levantar dados que pudessem justificar o acontecido. Foi então que descobriram que há vinte anos houve uma professora naquela comunidade, a tia Ana, a qual amou as crianças e tratou-as de forma diferente de qualquer professora que já estivera naquele local. A tia Ana ensinara àqueles pequenos seres princípios de caráter, bondade e fé, marcando a vida de cad...

Download do destino

A esperança caminha pelo labirinto e leva o fio dourado Pelo qual sou conduzido...  Mas o fio será logo partido. Fingir seguir regras, manipular jogos, odiar pessoas e amar coisas Equivalem a escrever uma verdade num verso mentiroso. Sem a esperança, só há uma maneira de sair do labirinto: Encontrar imensamente o sentido que todos buscam. Namorar avatares, dançar com hologramas, redefinir a solidão E amar pessoas virtuais são o download do destino. E eu quero muito exercer o direito de querer. É o que define quem sou. Querer e querer. Mais e mais. Num ciclo interminável. Ávido, intenso, insaciável. Quem tem sede do absoluto nunca vai cessar o desejo E quando nada mais fizer sentido, descobrirei o sentido da vida: Deixar a quimera à deriva para me divertir dentro e fora do labirinto. Anakin Ribeiro

O professor

Um professor muito perspicaz lia uma poesia e falava para seus alunos sobre o sentido da vida, durante as aulas de língua portuguesa. Em determinado momento, observando o desinteresse de alguns deles, disse: - Quem é indiferente à beleza, passa pela vida como se fechasse os olhos para ela. - O senhor está falando besteiras - respondeu, ofendido, um dos alunos. - Não levante seu tom de voz, melhore seus argumentos. - Está me chamando de idiota?! - Ninguém estaria aqui hoje questionando a importância da aula ou sobre o sentido da vida se fosse um verdadeiro idiota – continuou o professor. Questionar faz parte do processo. Contudo, se uma pessoa se irrita porque espera sempre ouvir aquilo que deseja ouvir, como seria o mundo se todos fossem obrigados a falar só o que agrada ao outro? O aluno parou subitamente e ficou refletindo: - O que o senhor quer dizer com isso? - Quero dizer algo bem simples – respondeu o professor. As pessoas estão acostumadas a ouvir apenas aqu...

O tempo, feroz amigo

É uma das esquisitices do nosso tempo que na época em que mais tempo vivemos haja tanta dificuldade em relação ao que se convencionou chamar  velhice . Palavras significam emoções e conceitos, portanto também  preconceitos . Por isso, quero falar de minha implicância com a implicância que temos com os vocábulos – e a realidade –  velho ,  velhice .  E, como gosto de historinhas, algumas, como esta, reais, lembro um episódio com Tônia Carrero, ainda uma linda mulher aos oitenta anos, na casa de minha comadre Mafalda Verissimo. De repente, alguém lhe perguntou: “Tônia, chegando aos oitenta, como você lida com a velhice?". Nós todos gelamos, mas ela, em pé no meio da sala, possivelmente com um cálice de champanhe na mão, respondeu sem hesitar: "Ora, eu acho ótimo. Porque a alternativa seria a morte”. A presença de Tônia era sempre uma festa naqueles tempos. E nós, eu então com mal uns cinquenta, achei maravilhosa aquela presença de espírito, e aquele pensa...

Ofício

Os poemas que não fiz não os fiz porque estava dando ao meu corpo aquela espécie de alma que não pôde a poesia nunca dar-lhe Os poemas que fiz só os fiz porque estava pedindo ao corpo aquela espécie de alma que somente a poesia pode dar-lhe Assim devolve o corpo a poesia que se confunde com o duro sopro de quem está vivo e às vezes não respira. Gastão Cruz

Presente de amor

A bela moça se aproximou do jovem namorado e disse: – Meu aniversário será amanhã. – Eu sei, amor, você acha que eu seria capaz de esquecer uma data tão importante ? – Ah! Meu querido! Por isso te amo tanto! Ele, abraçado a ela, perguntou: – O que você quer ganhar de presente ? – Posso escolher o que eu quiser, querido? – Sim. – Então, quero um anel de diamante! – Certo. Ele a beijou demoradamente e depois foi embora. Ela foi se preparar para o dia de amanhã. Foi ao salão de beleza, à manicure, ao shopping center, comprou o mais lindo vestido que encontrou. No dia seguinte, ela estava lindíssima, mais do que pronta para seu aniversário. Parecia uma princesa de contos de fada. Radiante. Feliz. Um espetáculo. Ele chegou de repente e falou: – Você é a mulher mais linda do mundo. Eu te amo. – Obrigada, amor. – Fiquei tão admirado e bobo com tua beleza que acabei esquecendo do teu presente. Toma. Abre. Ao abrir o presente, ela não escondeu sua decepção do ...

Amar

Vir ao mundo e conhecer os males e os prazeres da vida. Acordar todo dia e adormecer todo dia. Sonhar, desejar e conseguir. Fracassar e aprender com o fracasso. Ora temer a morte ora não temer a morte. Aprender com as quedas e ascensões. Ser a metade de alguém. Fazer nascer uma nova vida. Beijar a quem se ama e cuidar de quem se ama. Saber quando errar é fazer a coisa certa. Eu sei que a vida só é essencial se amar for a fonte de tudo: “Eu te amo” é o enigma que dá sentido A quem escreve seu destino. Acreditar em si mesmo Fortalece nossas escolhas. E amar é definitivamente ver-se refletido em outra pessoa. Por isso, me encanta sobretudo testar todo mundo. Confundir os destinos. Morrer por alguém. Viver por alguém. Amar alguém é tudo isso. Apaixonados riem. Felizes riem. Até infelizes riem. Mas indiferentes, não. Escolhe tua idade e tua razão de sorrir. Amar significa dar liberdade absoluta ao coração. Anakin Ribeiro

Música

Algo de miraculoso arde nela, fronteiras ela molda aos nossos olhos. É a única que continua a me falar depois que todo o resto tem medo de estar perto. Depois que o último amigo tiver desviado o seu olhar ela ainda estará comigo no meu túmulo, como se fosse o canto do primeiro trovão, ou como se todas as flores explodissem em versos. Anna Akhmátova